sábado, 9 de junho de 2012

o nosso museu do Marajó, uma história sem par feita por necessidade e acaso da Criaturada grande de Dalcídio.


Jenipapo, vila de pescadores do lago Arari (Santa Cruz do Arari, ilha do Marajó - Pará).


"Ao meu Marajó,
minha alegria,
minha tristeza,
minha conquista,
minha derrota!"
Giovanni Gallo (Turim, Itália 1927- Belém, Brasil 2003)
"Marajó a ditadura da água" 3ª ed, 1997.

Como vocês se recordam o Museu do Marajó (ver www.museudomarajo.com.br) foi criado pelo padre Giovanni Gallo S.J., no ano de 1972, no município de Santa Cruz do Arari, tendo ele simplesmente dado título de "O Nosso Museu". Pelo menos assim se chamou antes da mudança de sede para Cachoeira do Arari (1984) até a segunda edição do livro-reportagem "Marajó; a ditadura da água". Belém, Edições "O Nosso Museu", Santa Cruz do Arari Pará 1981 - 2a Edição. Sem dúvida, trata-se de um ecomuseu de vocação comunitária destinado a servir a todos marajoaras e promover a Cultura Marajoara no Brasil e no mundo.

Na obra citada o autor informa que foi o romancista Dalcídio Jurandir (ver www.dalcidiojurandir.com.br ), em correspondência entre o Rio de Janeiro e Belém através da amiga fiel Maria de Belém Menezes, quem o incentivou a publicar o dito livro. Estamos lembrados de que Maria de Belém é filha do poeta Bruno de Menezes, a quem Dalcídio tratava carinhosamente de seu "babalorixá".... Bruno foi mentor da Academia do Peixe Frito, notável confraria do Ver O Peso curadora da festividade folclórica de São Benedito da Praia, no bojo do movimento modernista paraense, ocorrido nos anos de 1930 em torno da revista literária Belém Nova.  Desgraçadamente, o conservadorismo político e cultural do Pará tem relegado ao esquecimento todas estas manifestações populares da paisagem cultural Belém-Marajó, notadamente a Cultura Marajoara: mátria da ecocivilização amazônica de 1500 anos de idade...

De maneira que se o viajante ao tempo e espaço amazônico na "maior ilha fluviomarinha do mundo" e não iniciar a viagem pelo portal d'O Nosso Museu do Marajó  terá sido como ir a Roma e não ver o Papa. Atravessando a baía do Marajó e subindo o rio Marajó-Açu até a antiga "Cachoeira do rio Arari" o viajante há de saber 'QUAL A PEÇA MAIS ANTIGA E A MAIS NOVA' do tal ecomuseu do homem marajoara. Caso contrário, ele poderá ter visto toda paisagem, mas não comprenderá nada a respeito da arcaica "universidade pés-descalços" de engenheiros de açudes de gados do rio e arquitetos de aldeias suspensas que, há mil anos passados, existiram sobre sítios arqueológicos que ainda se encontram na ilha do Marajó. 

O turista desavisado poderia, então, acreditar que o búfalo é o maior símbolo cultural do Marajó sem desconfiar que ali o que importa é o "homem do Pacoval" (isto é, o inventor da primeira ecocivilização da Amazônia, conforme se pode inferir da Arqueologia amazõnica (cf. Denise Schaan www.marajoara.com ). Este marajoara desconhecido ainda tem remanescentes dentre pescadores desmemoriados e despossuídos do Lago e rio Arari...

Dalcídio escreveu em carta à Maria de Belém: "Que o padre tire uma coleção de reportagens e faça um livro que será retrato da terra e da gente de Jenipapo.... [...] ... A foto das crianças de Jenipapo me comove, são meus netos marajoaras, alegres apesar da miséria, apesar da dura condição em que vivem... [...] O padre Giovanni é corajoso, sim senhor,  tocando em feridas velhas, na área de Jenipapo e Santa Cruz do Arari. Feridas que sangram em meu romance "Marajó". O que me surprende é que as coisas lá não mudam, ao contrário, se agravam... [...] O padre Gallo, com muita ênfase e jeito, confirma a denúncia. Não estamos tão distantes um do outro".

Claro, por acaso, o chão do romancista agnóstico de "Chove nos campos de Cachoeira" é o mesmo campo do purgatório do padre italiano portador dos inquietantes ventos do Concílio Vaticano II e da Teologia da Libertação -- o aggiornamento da igreja romana e ajuste de contas do catolicismo consigo mesmo em quinhentos anos de contradições dilacerantes do Cristianismo -- entre cabocos desnorteados e perdidos no mundo das águas na boca do maior rio da Terra em luta de titãs com o Mar-Oceano. O europeu ilustrado insubmisso aos cânones, autor do autobiográfico "O homem que implodiu", se fez marajoara por necessidade e acaso vendo nesse estranho destino a mão de Deus para despertar aquela gente do fim do mundo, vivendo o missionário seus últimos dias feito um caboco entre os outroscabocos: Giovanni Gallo morreu e se fez enterrar à ilharga do incrível museu inventado de "cacos de índio" extintos e de estórias ingênuas de caboco, para ressuscitar uma milenar civilização morta entre chuvas e esquecimento.  

2013, 10 ANOS DO MUSEU SEM GALLO

Será que ele, Gallo; em suas angústias, medos e insônias teve exata percepção de que estava metido na goela da Cobra grande? De certa maneira, ele foi profeta quando disse que viria a ser um grande homem, depois de morto... Mas, não previu que com sua morte a obra sofreria mais dificuldades ainda antes que se cumpra sua última vontade, expressa no manual de sua autoria "Motivos Ornamentais de Cerâmica Marajora", espécie de testamento público. 

Qual seja, a profissionalização da entidade mantenedora do Museu na forma de uma moderna fundação, a fim de praticar o turismo de base comunitária e o desenvolvimento sócio-econômico e cultural local sustentável. Ele deixou tudo escrito, de modo que esta é a sua verdadeira herança e concretude de seu sonho humanitário - na pior das hipóteses, se o museu fosse destruído e acabado por qualquer motivo - os sucessores poderiam recomeçar tudo de novo a partir do testemunho escrito: que nem o célebre Chalé de "Chove nos campos de Cachoeira", "Três casas e um rio" e outros romances do ciclo Extremo-Norte, eternizado pelo patrimônio imaterial dalcidiano ainda que várias invernadas, a pobreza crônica e o desleixo político das autoridades deixassem arrasar o imóvel histórico tombado e perder até o terreno onde fora edificado antes do ano de 1910, como de fato sucedeu. Pois, a casa de infância de Dalcídio permanecerá inabalável nas páginas da ficção e poderá um dia vir a ser reconstruído na vez e na hora que a brava gente quiser.

Não importa, toda obra seja lá qual for cedo ou tarde ultrapassa o autor e se faz coletiva desde quando o mundo é mundo, em qualquer tempo ou lugar... Pensem, por exemplo, numa estátua dos antigos faraós do Egito pilhada para algum museu na Europa. Pensem como as naftalinas do Louvre enjoaram museólogos enfurnados anos e anos a bom aturar as elites mais exigentes do mundo e os fizeram sair fora a rua para respirar ar fresco e inventar museus ao ar livre, ecomuseus em parceria com diversas comunidades mundo afora... Agora reflitam sobre o que será que estão fazendo longe da ilha do Marajó e de contexto socioambiental regional, as coleções de cerâmica marajoara retiradas (sabe Deus como, lembrando as informações do Barão do Marajó, por exemplo, desde a descoberta do teso do Pacoval em 20 de novembro de 1756, pelo fundador da freguesia de N.S. da Conceição da Cachoeira do rio Arari, no ano de 1747, Florentino da Silveira Frade) de tesos arqueológicos para museus provectos de primeiro mundo (cf. "Cultura Marajoara", Denise Shaan, ed. SENAC, São Paulo, 2010)... 

Eu pelo menos não tenho dúvida de que, mais tarde, se poderá em conjunto com países-membros da UNESCO intentar uma cooperação Norte-Sul favorecendo o fortalecimento de insituições comunitárias -- como o caso do Museu do Marajó --, para repatriamento assistido de bens culturais a seus locais de origem. Uma utopia ainda hoje, mas uma probalididade amanhã... Então, fará maior sentido o reconhecimento do bioma do Golfão Marajoara, entre as Amazônias verde e azul, como Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia... Prova de que o povo sabe das coisas, mesmo quando desconhece o porquê.

Havia dez anos que o padre pelejava com a criaturada do Lago quando ele, finalmente, conseguiu publicar o livro-reportagem a que chamava de diário. Já o romance "Marajó" do "índio sutil" foi escrito em Salvaterra, em 1939, no mesmo ano e lugar da reescritura de "Chove"... Dalcídio deu-lhe título de "Marinatambalo", conforme o navegador Vicente Pinzón (janeiro de 1500) diz ter ouvido da boca dos índios insulanos que ele capturou como escravos (provavelmente aruãs da aldeia que veio a ser hoje a cidade de Chaves) como sendo o nome da ilha... Começa o primeiro romance sociológico brasileiro no rio Paricatuba em Ponta de Pedras... A ficção vai com imaginação aonde a realidade não consegue ir para denunciar nossa cegueira. Mas, agora o padre daltônico em dúvida entre a barbaridade do terceiro mundo e a civilização industrial viria certificar a denúncia que o romance havia feito há quarenta anos. E, décadas depois, o romancista estimulava a publicação de um livro-reportagem que "confirma a denúncia": prova de que padre temente a Deus e escritor descrente não estavam lá "tão distantes um do outro".  O "homem do Pacoval" (nativo marajoara, na expressão da obra autodidata de Raymundo de Morais) os aproximou na vida e uniu na morte.


NO ITAGUARI O MARAJÓ COMEÇA


Não espanta que em Itaguari [Ponta de Pedras], primeira fazenda Jesuíta na ilha do Marajó, o rio Paricatuba tributário do Marajó-Açu, tenha sido cenário onde o romance "Marajó" começa; levando posteriormente o padre dos pescadores do Lago a publicar o livro-reportagem "Marajó; a ditadura da água"... Santa Cruz do Arari também foi fazenda dos padres jesuítas expropriada pelo Marquês de Pombal para doação aos Contemplados (1760, cem anos depois da carta de Vieira sobre a paz do Mapuá entre índios e brancos). Posso dizer, modestamente, que eu abri os olhos e ensaiei meus primeiros passos no Fim do Mundo, bairrozinho do Itaguari; e a cabo de remo como tantos outros goiabas (compradores pontapedrenses de peixe seco no Arari) fui só com um camarada ao Lago, chegamos ao Jenipado e dali voltamos rio abaixo, sempre em canoa a remo durante três dias e três noites, ano de 1956, aos 19 anos de idade. O que eu vi e vivencie podia estar no romance de Dalcídio ou nas reportagens do Gallo: agora entra aqui por acaso no rio da memória...

NO ALTO DO TESO PACOVAL 1500 ANOS CONTEMPLAM NOSSA CIVILIZAÇÃO DE TERCEIRA CLASSE: UMA ALDEIA INVISÍVEL, ARQUITETURA DO BARRO.

No Marajó os extremos se tocam e acontecem coisas incríveis. O extraordinário é que o mito da Cobra grande não só é atual como comprova que o esquecimento imediato dos acontecimentos, na verdade, é que nem a folclórica mundiação da Boiúna mãe do rio e das criaturas. Que o museu do Gallo é, sem nenhuma dúvida, ecomuseu que o Brasil e o mundo desconhecem; prova do que acabamos de dizer. Os dalcidianos adoram a obra do festejado escritor do ciclo Extremo-Norte mas, com as exceções de praxe, não enxergam na Criaturada grande o homem Dalcídio mergulhado no barro dos começos do mundo como Jorge Amado saudou o "índio sutil" na Academia Brasileira de Letras (ABL), na sessão solene para entrega do Prêmio Machado de Assis (1972): o primeiro para autor amazõnico e até agora não houve outro se não para o filósofo Benedito Nunes... Mesmo ano em que o padre Gallo quebrava cabeça para cumprir sua missão entre pescadores do Lago e, por acaso ou a Divina Providência, o caboco Vadiquinho chegou dos campos com o estranho presente de "cacos de índio", provavelmente, recolhidos do estropício e arrombamento do sítio arqueológico confronte à vila do Jenipapo, o dito teso do Pacoval. Logo estava feito o inverossímel museu de curiosidades para atrair a cumplicidade de cabocos genericamente acusados de ser "ladrões de gado", colaboradores ocasionais de um padre teimoso como o diabo, metido a contrariar o bispo diocesano também este pra lá de voluntarioso e a políticos demagogos locais. Saiu caro a "brincadeira"... E o castigo veio a galope!

O livro "Marajó; a ditadura da água" é, paresque, o romance "Marajó" vivenciado 40 anos depois de escrito na vila de pescadores de Salvaterra. Mais uma coincidência, em 1960, Salvaterra e Santa Cruz juntas chegavam à emancipação municipal: esta última desmembrada de Ponta de Pedras, que foi desmembrada de Cachoeira, que foi desmembrada da Vila de Monsarás, que hoje é distrito de Salvaterra; que foi desmembrada de Soure... Aqui a antiga aldeia dos "Maruanazes" (deve-se dizer Maruaná), ali a aldeia dos Joanes (aliás Iona ou Sakaka) que algum dia deu nome à Capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes (que era Ilha Grande dos Nheengaíbas, dos Aruans, Marinatambalo (segundo Pinzón), aliás Analau Yohynkacu (cf. Ferreira Penna), enfim Marajó). 

Cada um faz a sua refazenda, Marajó do padre coincide com Marajó do romancista, porém um e outro tem lá suas diferenças e particularidades. São dezesseis municípios num território do tamanho de Portugal, algo como 1700 ilhas mais a microrregião continental de Portel que dobra de tamanho o arquipélago, onde mais de 500 aldeias ou comunidades se dispartem. Podia assim tamanha biodiversidade e diversidade cultural se reduzir unicamente ao romance de Dalcídio Jurandir ou ao livro-reportagem e museu de Giovanni Gallo? Eis aqui uma questão típica da "ilha" que são ilhas do Marajó... Dizer, "eu sou nós" nunca deu tão certo como entre os marajós da vida! Esses uns que rezam pelo bem-comum: a canoa é nossa, a casa é nosso, nossa várzea, o sitio é nosso, portanto, O Nosso Museu (mas a mulher é minha e os filhos meus, seu safado, diz o caboco).

Da mesma maneira que a tal "ilha" é arquipélago e boa parte do continente do entorno insular é o Marajó cantado em verso e prosa; também o romanceiro e o ecomuseu se referem ao todo focalizando a parte. Um passado desconhecido que não cessa de provocar debates apaixonados no presente e puxar pela imaginação para reinventar o futuro... Ver o museu do Gallo sem ler o romance de Dalcídio é como perder metade da viagem. Procurar saber a história da Ilha Grande sem mais notícias da Criaturada grande desde a pesca dos "gados do rio" em escambo com mercadores holandeses, em fins do século XVI; é sacrificar o contexto biogeográfico da parada. Tudo está interligado no tempo e espaço planetário, quanto mais na vastidão das regiões amazônicas e outras regiões naturais do mundo: por milhares de anos as fontes do Nilo urdiram a chamada história universal até um certo Francisco de Orellana descobrir a lenda das amazonas na Amazônia avant la lettre, importadas da Capadócia...

Para a Criaturada grande de Dalcídio, o "homem do Pacoval" a que se refere Raymundo de Morais; é o começo da história com o barro dos inícios do mundo. O índio sutil transformou fragmentos da memória numa obra monumental de ficção e o marajoara que veio de longe, provocado pelo caboco Vadiquinho; fez o milagre de uma ressurreição inesperada: resiliência cultural de simples cacos de índio que nos remetem à solidão ecológica dos tesos com sua muda acusação à indiferença da Civilização dos conquistadores e colonizadores insensatos. Por acaso, quando o sol declinava em Roma o mesmo se levantava na desconhecida ilha dos marajós, cerca do ano 500 da era cristã...

À BEIRA DO RIO DA HISTÓRIA O HOMEM DO PACOVAL ASSISTE O FORMIDÁVEL ESPETÁCULO DISCURSIVO DO DESENVOLVIMENTO (in)SUSTENTÁVEL.

Já os temerários portugueses, ajudados indispensavelmente pela brava Nação Tupinambá; haviam conquistado o rio das "Almazonas" expulsando dele primeiramente os franceses do Maranhão (1615) e depois (1623-1647) holandeses e britânicos. Desembaraçados dos concorrentes estrangeiros não conseguiram os ambíguos aliados, todavia, vencer a feroz resistência do "homem malvado" (marãyu / marajó). Enfim, depois de 36 anos de atropelos e correrias causados pelo bárbaro Nheengaíba das ilhas, desde a vitória de Gurupá (1623), que impediam a livre passagem do Pará ao Amazonas apesar do extraordinário feito de Pedro Teixeira e do bandeirante Raposo Tavares; na ambição de conquistar os confins do rio em busca do El Dorado pelos lusos e a Terra sem males pelos tupinambás; acabou-se de conquistar o Maranhão e Grão-Pará pela pax dos Nheengaíbas (isto é, Marajoaras) a 27 de agosto de 1659, no rio dos Mapuaises [Mapuá, município de Breves]: foram em total 44 anos de guerra suja desde a tomada de São Luís do Maranhão. Desamparados de tudo e de todos, nunca vencidos pelas armas combinadas dos barões assinalados e do bom selvagem buscador da mítica Terra sem males; os faladores da "língua ruim" (nheengaíba) numa narrativa mirabolante (carta do Padre Antônio Vieira destinada à viúva do rei Dom João IV, regente de Portugal Dona Luísa de Gusmão, 1660), concordaram enfim com as pazes que lhes eram oferecidas pelos padres da Companhia de Jesus. Sem isto, é bom que os brasileiros se recordem; nunca poderia a tese de Alexandre de Gusmão prevalecer para revogar o tratado de Tordesilhas (1494-1750) entre Espanha e Portugal: e, portanto, Marajó havia de permanecer na posse de Castela... Ou cair no domínio de qualquer outro reino europeu tendo estabelecido colônia nas Guianas: melhor ou pior, de qualquer forma, Marajó e o Pará inteiro seria bem diferente do que somos hoje. Que terão concertado os sete caciques "nheengaíbas" (nuaruaques) para optar pela pacificação do Grão-Pará? Esta resposta não poderá jamais ser abordada ou desenhada somente com a parcas e iludidas fontes coloniais...

Nossos historiadores pulam por cima da engenhosa dissertação barroca do Payaçu (Padre grande Vieira), sem interesse acadêmico para especular sobre o que não está escrito, mas a antropologia e às vezes a arqueologia insinua. Marajó resta sendo um desafio à imaginação de verdadeiros viajantes... Logo, uma mina para o turismo inteligente de vocação comunitária. A lição do padre Giovanni Gallo mais o guia-mestre Dalcídio Jurandir com a sua incontornável Criaturada... O Marajó sem índios já foi um prejuízo incalculável, sem o caboco ribeirinho poderia até dar em não sei quantos reinos modernos comparáveis a Singapura, mas então teria sido a ruína total e final da ecocivilização amazônica iniciada com os tesos de camutins (cerâmica marajoara).

A verdadeira morte é o esquecimento. Enquanto houver memória haverá esperança de ressurreição (é isto que se diz na missa católica). Crendo ou não crendo, gostando ou não se gostando de padres e pastores, Marajó continua sendo uma história de utopia e combate com a indelével marca jesuítica e o sebastianismo popular eivado de palejança amazônica e encantaria africana. O confronto do século XVIII entre a escolástica e o iluminismo serve de capa à cultura marajoara sepultada no teso do Pacoval do rio Arari. O Museu do Marajó acabou sendo uma espécie de "teso" representativo, em cuja ilharga os restos mortais do marajoara que veio de longe começa, talvez, a ser beatificado que nem o Padre Cícero em Juazeiro, no Ceara. Os caminhos emendados da história e da estória são intermináveis. Mas quem diria isto, por exemplo, aos chefes de estado na pomposa Rio+20?

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