sexta-feira, 1 de junho de 2012

Itaguari (Ponta de Pedras): aqui o Marajó começa

Farol de Ponta de Pedras, Por Marcello Tavares da Silva


Somos todos convidados a reescrever a história de nossa terra. Há uma história oral que precisa ser escrita e para isto todos nós podemos cooperar. Além disto há uma história escrita que, devido a raridade das fontes, carece ser relida e copilada. O estudo da arqueologia e da antropologia abrem pistas para o conhecimento mais antigo.

Os colaboradores podem enviar suas colaborações para o email itaguari1937@gmail.com que ficaremos responsáveis pelas respectivas postagens. Além disto, os comentários são livres neste mesmo blog. 

Sobre o título acima, deve-se ter em mente dois fatos: (1) o rio Marajó-Açu (Marajó-Guassu conforme fontes jesuíticas do século XVII) dá nome à ilha e a todos mais acidentes geográficos derivados; (2) este nome, inegavelmente é de tronco Tupi, mas o antigo habitante do rio Marajó-Açu é de etnia Nuaruaque.

Logo, o referido nome de lugar se refere à conquista da ilha pela nação Tupinambá (certamente, antes da chegada dos portugueses em seguida da tomada de São Luís do Maranhão, em 1615). Um dos mais antigos documentos sobre a presença dos Tupinambás no Alto Amazonas data de 1538 (cf. Nelson Papavero em "O Novo Éden", edição do Museu Goeldi), portanto antes de Orellana e seu descobrimento do "rio das amazonas" (1542).

O nome "Marajó" ou "Marajoara" foi atribuído ao morador do rio pelo inimigo que o queria conquistar. O Marajó-Açu também foi chamado rio Pororoca algumas vezes. Sinal do perigo das marés de sizígia estrondando na boca do rio na ponta de pedras, o célebre Itaguari na tradução em Nheengatu (a boa língua geral) colocando à prova da perícia dos canoeiros na perigosa entrada do canal retorcido sobre fundo pedregoso coberto pelas ondas.


Assim, na dita ponta de pedras a história começou na ilha do "homem malvado" (marãyu / marajó do tupinambá através da língua geral). Baseado no historiador Serafim Leite, discordo da tradução vulgar de Mbarayó para "barreira do mar": a barreira aqui era contra a invasão tupinambá. Uma guerra de guerrilhas, com emboscada na beira do rio e setas de tala de patauá envenenadas lançadas de zarabatana feita de braço de paxiúba... Antes da versão historiográfica generalizada, é a toponímia que abre as portas da compreensão geocultural desta história marginalizada. O contexto histórico, no século XVII abre a primeira página da memória coletiva da nossa Ponta de Pedras, nosso inesquecivel Itaguari a servir de farol à travessia do tempo por gerações pontapedrenses e marajoaras em geral.

Vamos lá?




Um comentário:

  1. A explicação toponômica deste rio da ilha do Marajó está certamente no estudo da Lingua Geral amazônica. Daí uma hipótese para "marajó-guassu" como o "poderoso homem malvado" poderia achar amparo na comparação como o termo "pajé-açu" (o caraíba, pajé verdadeiro dotado de poderes mágicos de vida e morte). Ou ainda ao título atribuido pelos índios ao Padre Antônio Vieira, de "payaçu" (padre grande). Deste modo, o valente Tupinanbá talvez quisesse com este topônimo assinalar seu temor ao grande inimigo marajoara do lugar, que o impedia de ocupar a ilha grande e passar livremente para dentro do vale do Amazonas ou atravessar para o Cabo Norte (Amapá). Claro que suposições como esta são como verrumas para penetrar ao cerne da questão historiográfica forjada na falta de fontes e no preconceito colonial contra as populações tradicionais marginalizadas pela História.

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